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Raquel em OFF

Raquel Iendrick, embaixadora da neve no Brasil, compartilha sua trajetória no snowboard e o crescimento dos esportes de inverno no país.

Raquel Iendrick: A Embaixadora da Neve no Brasil

Bicampeã brasileira de snowboard, medalhista em torneios sul-americanos e há oito anos apresentadora do OFF, canal esportivo da Globosat, Raquel Iendrick se tornou embaixadora da neve no Brasil. Embora essa carioca tenha crescido na praia, foi na neve que encontrou um sentido maior para sua vida.

Como e quando se iniciou sua paixão pela neve e pelo snowboard?

Eu tinha obsessão por fazer intercâmbio. Logo que concluí o ensino médio, comecei a trabalhar para juntar dinheiro e ir à Nova Zelândia. Meu desejo era pular de paraquedas e saltar de bungee jumping. Neve para mim era coisa de outro planeta. Mas trabalhando na Osklen, marca de roupas e acessórios, comecei a prestar atenção nos vídeos de snowboard exibidos na loja. Quando me dei conta que não teria dinheiro para ir à Nova Zelândia, decidi fazer intercâmbio profissional em uma estação de esqui nos Estados Unidos, não muito famosa e sem brasileiros, para eu treinar inglês e praticar snowboard. Foi aí que, em 2005, fui trabalhar em Kirkwood, centro de esqui em South Lake Tahoe, na Califórnia, como operadora de teleférico.

Quando você percebeu que o snowboard seria seu ganha-pão?

Fiquei indo e voltando de South Lake Tahoe durante algum tempo. Minha vida se resumia a trabalhar para viajar e continuar praticando snowboard. Como andava com as americanas locais, como a famosa Jamie Anderson, pensava que meu desempenho não era bom o bastante para me profissionalizar. Mas, ao começar a andar com as brasileiras e a viajar pela América do Sul, me destaquei e fui convidada para entrar no time da Confederação Brasileira. Certo dia, fui chamada para um torneio de snowboard com neve artificial na praia de Botafogo. Uma produtora do canal Multishow me viu e convidou para fazer um teste. De início recusei. Mas estava num momento da vida em que precisava agarrar todas as boas oportunidades. Fui aprovada para apresentar o programa Vai pra Onde? junto com o Bruno de Luca. A partir disso, tudo mudou. Acabei apresentando também o programa Sem Destino, no mesmo canal, durante cinco anos.

Raquel Iendrick, Snowboarder e apresentadora de TV

Como foi sua trajetória até estreiar seu próprio programa no canal OFF?

O processo foi lento. Desde a época do Vai pra Onde?, insistia com meus chefes para fazer um programa de snowboard. Naquele tempo, não existia o OFF e me diziam: “Você é louca! Quem vai assistir? Não tem neve no Brasil”. Eu sempre bati na tecla de que o brasileiro curte neve justamente porque aqui não tem neve. Importunei tanto que ganhei um quadro no Batom e Parafina, programa da Claudinha Gonçalves exibido aos domingos. Fomos a Andorra, na Europa, para gravar o piloto para o quadro. Voltamos com quatro episódios de meia hora cada, e assim nasceu o Snow Camp, que pouco depois estreou no recém-lançado canal OFF.

Como foi para a atleta o contato com câmera, luz, maquiagem e todo o universo que envolve a produção televisiva?

Foi tranquilo, porque não tem luz artificial nem maquiagem e tampouco estúdio. Tanto o Snow Camp como o Melhores Resorts de Inverno são programas que retratam a vida real, e na montanha estou sempre em minha zona de conforto. No Chile, inclusive, participei do campeonato brasileiro enquanto gravava.

De todos os episódios que você apresentou, qual foi o mais marcante?

Foi o do Japão, por ser um sonho antigo, desde a época dos intercâmbios. Eu queria ir para o Japão e, na primeira vez que disse isso à produção do programa, me chamaram de doida. Levei dois anos para convencer meu chefe, e até hoje ele diz que foi nossa melhor temporada.

E qual foi a entrevista mais memorável?

Foi com Nicolas Müller, snowboarder suíço. Estava indo para a Europa e pedi a uma amiga austríaca que indicasse pessoas interessantes para entrevistar na Suíça. Ela me apresentou o Nicolas e descobri que ele amava o Brasil. Amava tanto que nos recebeu em sua casa e ofereceu um jantar típico. Então veja só: eu estava na casa do meu ídolo, jantando com ele e mais outras pessoas megaimportantes do universo snow. No dia seguinte, Nicolas e eu praticamos snowboard juntos e ele me mostrou alguns dos seus secret spots na comuna de Laax.

Nos Jogos Olímpicos de Inverno deste ano o Brasil mais uma vez ficou sem medalha. Aqui os esportes de neve recebem pouco investimento ou esbarram nas condições climáticas?

A Confederação Brasileira de Desportos na Neve faz um bom trabalho, mas a dificuldade de captar verba para um esporte pouco popular é enorme. Há esportes de maior visibilidade que sofrem para conseguir patrocínio. Ironicamente, os atletas que melhor representam o Brasil não são brasileiros. Cresceram em outras terras, com mãe ou pai brasileiro, e pegaram a nacionalidade, pois não teriam chances de se classificar pelo país onde vivem. Já competi com uma norte-americana que representava o Brasil e não falava uma palavra de português. Faz parte, mas faltam pessoas nascidas e criadas no Brasil. A gente vê uma menina japonesa ganhando provas olímpicas com 15 anos. Eu vi neve pela primeira vez aos 20, quando trabalhava operando teleférico. Assim fica realmente difícil competir com elas.

Qual é o barato da neve para você?

A sensação de deslizar com a prancha nos pés, de escutar o barulho da neve powder montanha abaixo e de escolher aonde ir é indescritível. É diferente do surfe, em que você segue a onda. No topo da montanha, eu tenho um mundo de possibilidades. Eu me encontrei nesse esporte, aprendi muito sobre mim e, quando pratico, estou 100% conectada com o momento presente e com a natureza. Nasci na praia, mas amo a montanha.

O brasileiro está pegando gosto pela neve e trocando destinos tropicais pelas montanhas durante as férias?

Sim. Quando mudamos o nome do programa Snow Camp para Melhores Resorts de Inverno, tentamos mostrar isso. É importante englobar a família, pois cada vez mais as pessoas viajam para a neve para vivenciar todas as possibilidades da montanha, que vão além do esporte.

Você se sente uma representante dos esportes de neve no Brasil?

Acho que estou contribuindo para o crescimento dos esportes de neve entre as mulheres. Recebo muitas mensagens que me emocionam. Nunca imaginei que minha maior paixão estaria na neve e que minha carreira viria dali. Sempre digo às pessoas: experimentem o diferente. Vale a pena!

Esse conteúdo faz parte da revista do Point da Neve – Temporada 2018/2019. Para ler o conteúdo completo é só clicar aqui.

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