Neve & coisas da música

Uma Experiência Memorável no Valle Nevado

... bendita musiquita amada ...

O Valle Nevado, aquele centro de ski bacanudo no Chile, abriu suas pistas aos skiers & snowboarders no final dos anos 80 - e causou furor imediato no mundo da neve: imaginem que passávamos a ter um belo resort, com 100 km de área esquiável / 3 hotéis para 3 tipos de bolso, a 60 km de distância do aeroporto internacional de Santiago!

- naquela época, a Varig oferecia 3 vôos semanais porto alegre/santiago; saíam cedinho do Salgado Filho, os trâmites de chegada eram rápidos; o trânsito da capital chilena era tranquilo ...

- essas facilidades - junto com 2 horas ganhas no fuso horário - permitiam que o vivente pudesse tomar café da manhã em casa e ... almoçar no coração dos Andes, a exatos 3.104 m de altitude, no restaurante Bajo Zero - logo depois de descer a Diablada, por supuesto.

Que tempos! Que tempos!

Bueno, naquele momento eu trabalhava apenas com Bariloche e Chapelco ...

- é claro que precisava muito representar este novo centro de ski, e assim iniciei os contatos para isso - cartas (sim, era assim, acreditem); depois, contatos telefônicos; ao final, uma visita a Santiago.

Pois deu na trave.

Eles haviam prometido exclusividade de venda no Brasil para alguns operadores de São Paulo, todos tradicionais & ótimos.

- e eu vinha de um estado lá da ponta do sul do país, na era pré-web ... na batata, na era pré-fax, imaginem!

Fiquei desolado.

Meses depois, apareceu um convite para um evento do Valle Nevado em São Paulo - um jantar com música, em um hotel bacana.

Lá fui eu prá sampa, nas asas da Varig, cheio de esperanças.

A noite estava ótima ... o backstage do mundo da neve brasileiro estava todo lá, era um tempo de amizade e risos; e os dirigentes do resort eram uma simpatia só.

Um conjunto chileno fazia o fundo musical, o trago era bom e muito; lá pelas tantas, rolou um karaokê: um bebum resolveu homenagear o Chile, cantando um tango argentino - em um momento de rara sensibilidade geopolítica.

Aí ... deu-se a mágica: uma menina de uma operadora argentina, que me havia visto tocar na noite de Bariloche anos atrás, começou a dizer alto "beto valle es cantor!!", sendo seguida pelos demais bebuns, em coro.

E lá fui eu para o palco.

Deram-me um violão ... cumprimentei os músicos, avisei o tom, e ...

Comecei a cantar "Si vas para Chile", algo precioso para cada chileno, de qualquer idade, profissão ou nível social.

Os músicos seguiram junto, surpresos & emocionados; os muitos chilenos que estavam ali levantaram, e cantaram alto, erguendo as mãos e se abraçando, naquela saudável mistura de muito trago & patriotismo.

No fim da festa, ganhei o contrato do Valle Nevado.

Aloha do beto valle

PS: três décadas depois, seguimos juntos e felizes, a família cresceu ...